quarta-feira, outubro 25

Temos uma nova colaboradora

É a Mãe a Dobrar, e de certeza que vai trazer uma nova dinâmica para as Conversas!

Vamos dar-lhe as Boas Vindas?

sábado, outubro 21

E estas crianças... ?


Não é fácil abrir um sorriso a uma criança que vive num mundo à parte.

Chama-se Joana, tem 6 anos e todas as manhãs desce à sala de fisioterapia para os exercícios matinais. É uma rotina. E a Joana conhece bem as suas rotinas. Vive numa ala pediátrica de um hospital que a acolheu na noite em que sofreu um acidente de viação. Foi abandonada pelos pais uns dias depois dos médicos lhe diagnosticarem uma incapacidade permanente.

Vive no hospital que a acolheu após o acidente. Os corredores e as salas a que tem acesso são o seu mundo branco. E vai continuar a viver nesse mundo até que lhe seja dada alta da fisioterapia. O destino da Joana está decidido. Irá para uma instituição como tantas outras crianças.

Sabiam que os hospitais são o sitio ELEITO para o abandono de crianças? Não sabiam? Têm ideia da quantidade de crianças que crescem dentro de um hospital? Precisando de cuidados médicos, acabam por ficar um dia após outro.

Sabiam que um sorriso arrancado de uma criança destas é um acto quase impossível? Eu não disse impossível, disse quase impossível.

A proposta que vos deixo é que tirem uma manhã, um fim de semana, peguem em brinquedos dos vossos filhos, roupas que tantas vezes guardamos e já não lhes servem e passem no hospital, nos orfanatos, nas igrejas das vossas áreas de residência. No caminho comprem lápis de cor, canetas de filtro (há a montes nas casas dos 300).

Acreditem. Não é impossível arrancar um sorriso a uma criança destas. Há sorrisos que não se conseguem descrever em palavras. E olhem que o sorriso da Joana existe.

Vamos abrir sorrisos?
PASSAR DAS PALAVRAS AOS ACTOS ?

- «São meninos tristes, porque não têm o pai e a mãe ao pé deles... » Bruna, 5 anos.

Escrito por Alex, publicado no Grau Zero.
Obrigada pela preciosa contribuição!

Este texto surgiu no contexto de uma corrente iniciada na blogosfera, sobre as crianças que vivem maus tratos, que são abandonadas, que sofrem horrores, que são agredidas e violentadas todos os dias mesmo debaixo do nosso nariz.
É um tema forte, difícil de abordar, que nos toca profundamente e que mexe com os nossos medos e as nossas expectativas sociais. Um tema que tantas vezes esquecemos, mas que nos incomoda e impressiona quando nos entra pela porta dentro, geralmente pela televisão, ou pelos jornais ou revistas, ou na boca de alguma conversa. E se a sugestão é passar das palavras aos actos, vamos tentar que estas palavras (as aqui trocadas) acabem por semear algo dentro de nós, que motive os actos e as acções.

sábado, outubro 7

Informação a mais?


Li na Pais & Filhos deste mês um artigo sobre o "pediatra mais famoso de Nova York" do momento, Michel Cohen, cujo lema é «laisser faire», o que, por outras palavras pode ser resumido assim: "Pais, confiem mais nos vossos instintos e não leiam tantos livros!"

Este pediatra contesta a actual prática da intervenção médica: segundo ele, há medicação e intervenção a mais. Vivemos na era da informação, cada vez a ciência avança mais e novas descobertas acerca dos bebés e dos recém nascidos invadem a mente de pais e não-pais. Não querendo contestar a importância da investigação científica, fica a questão: será que o acesso a tanta informação não pode ser mais prejudicial do que se imagina?
Na opinião deste jovem médico, todos os pais têm a capacidade de cuidar do seu filho. É, por vezes, a preocupação e o excesso de informação que acabam por fazer com que percam essa capacidade intuitiva. Por isso aconselha os pais a não pensarem muito no assunto, e a não lerem livros acerca do desenvolvimento das crianças, mas sim a guiarem-se mais pelo seu instinto. O objectivo do seu livro, "The New Basics: A-to-Z Baby & Child Care For The Modern Parent" é acima de tudo tranquilizar e retirar a ansiedade aos pais, para que estes possam exercer a sua parentalidade sem precisar de recorrer a livros.
Já alguém tinha aqui deixado a sugestão de conversarmos sobre este tema, o da informação e dos eventuais "perigos" de um excesso de informação, e parece-me uma boa altura para o fazer. Porque, de facto, concordo em absoluto com este pediatra. Penso que hoje em dia os pais têm informação a mais, e muitas vezes esse excesso pode comprometer a sua capacidade de exercer a parentalidade com tranquilidade e segurança.
Mas atenção: não é a existência de informação que provoca este problema. A questão deve ser posta ao contrário: é a insegurança extrema dos pais e dos futuros pais que os faz cair nesta procura angustiada de informação, que por sua vez cria as condições propícias para que a informação se torne disponível e acessível. Se os livros para pais sobre o desenvolvimento infantil fazem tanto sucesso, é porque há muitos pais a lê-los e a comprá-los. A pergunta que devemos fazer é: porque é que estão os pais tão inseguros do seu papel, de tal forma que precisam de consumir informação em excesso?
A informação tem um papel muito importante. Tudo depende da forma como é usada. No último século fizeram-se descobertas importantíssimas sobre os bebés e a sua relação com o mundo. Nunca houve antes na nossa história uma aceleração tão grande em relação ao acumular de conhecimentos nas áreas da infância e mesmo da vida intra-uterina. Hoje em dia dispomos de uma gama de informação nova nesta área, incomparável com o conhecimento de outras épocas.
Dizer que a existência deste progresso no conhecimento não é positivo é um sinal de estupidez, quanto a mim. Mas a questão não é esta, e nem é isso que o Dr. Michel Cohen diz. A questão é, antes de mais, de que maneira é que essa informação vai chegar aos pais, como é que estes a vão utilizar, o que é que vão fazer com ela, que papel é que ela vai desempenhar na sua vida e na relação com o seu bebé.
Eu, por exemplo, gosto de ler livros sobre desenvolvimento infantil, porque me interesso bastante pelo assunto. E mentiria se dissesse que certas leituras não me ajudaram a esclarecer certo e determinado ponto, na minha experiência da maternidade. Muitas vezes os livros ajudaram-me, sim! E de outras vezes, também li coisas com que não concordei e que rejeitei, e não adaptei à minha experiência. Mas isto é como em tudo na vida: a nossa experiência vai-se alargando e enriquecendo com o contacto com outras opiniões, teorias, práticas... é como as conversas que temos com outras pessoas, outros pais e outras mães: há coisas que nos iluminam, há outras que não lançam raíz e que entram por um ouvido e saem por outro.
Eu não acho que o problema esteja em ler livros, mas antes na maneira como se os lê. É a tal insegurança de que falava há pouco. Porque se um pai ou uma mãe deposita no livro a esperança de, através dele, aprender a ser pai ou mãe, é melhor que nem o abra. Se por outro lado, apenas está interessado em auscultar pontos de vista sobre determinado assunto, recolher alguma informação nova, filtrando-a com a sua experiência, então talvez essa informação venha a revelar-se útil.
O problema da nossa era é que as pessoas acreditam cada vez menos em si próprias e nas suas capacidades. E isto acontece muito mais nas pessoas com uma grau de escolaridade elevado, que são precisamente as mesmas que procuram nos livros as respostas para as suas dúvidas e angústias. Aquilo que vem nos livros são apenas teorias, e teorias não dão resposta a nada, apenas lançam mais perguntas. As respostas vêm da vida e da prática, da aprendizagem que sempre se processa por tentativa e erro.
É por isso que acho a mensagem deste pediatra tão pertinente: porque, de facto, vivemos numa época de excesso de procura de informação, de excesso de racionalização. As pessoas têm uma dificuldade extrema em lidar com as emoções, e a tentativa de racionalizar que se procura nos livros e nas teorias é sinal disso mesmo. Nós não somos pais com a cabeça mas com o coração. Como em tanta coisa na vida, a racionalização excessiva atrapalha aquilo que o coração já sabe de cor, há muitos séculos.
É preciso parar com este excesso, sim; parar e olhar para dentro. É dentro de nós que devemos procurar as respostas para as nossas angústias. Não há livro nenhum no mundo que nos ensine como amar e cuidar do nosso filho. O melhor professor nessa matéria vai ser ele mesmo, o nosso bebé. Mas para aprendermos a lição precisamos de estar abertos e em sintonia com ele, para apreendermos o significado das suas mensagens e da sua linguagem. Parece complicado, mas no fundo é muito simples, porque a linguagem que o nosso bebé "fala" é a mesma que nós um dia também já "falámos", há muito tempo, quando éramos bebés como ele. Basta reencontrá-la, dentro de nós, porque ela está lá; esquecida, mas está lá. E nesta viagem, não são as palavras que nos guiam, mas os sentidos. E quanto mais "ruído" de palavras houver à nossa volta, menos despertos estaremos para reencontrar esta linguagem primordial.