terça-feira, setembro 26

Ser capaz de soltar as emoções negativas

Essencialmente, ao escondermos dos outros, especialmente dos que de nós estão dependentes, esse lado negativo, estamos a passar-lhes a mensagem errada de que o que é mau não é para ser falado, expulso, trazido cá para fora. Estamos a dizer-lhes que os momentos de tristeza, as alturas em que nos devemos e podemos zangar, os instantes de raiva têm de ser contidos num colete de forças. Sabemos todos que os bebés e as crianças aprendem muito por imitação, pelo exemplo, pelo que vêem, ouvem e sentem dos que com eles passam a maior parte do tempo, começando pela mãe e pelo pai, continuando na escola e no resto da família. Não se trata de desatar aos berros por tudo e por nada, não se trata de fazer má cara a todo o momento, trata-se de saber criar um espaço em que as emoções negativas podem e devem ser faladas, aprendidas. Uma mãe que nunca se zanga, que nunca chora, que nunca se entristece, um pai que não se zanga, não ralha, não repreende, não explica, sobretudo, o que é que está mal, o porquê das coisas, está a formar uma criança que vai provavelmente ter dificuldades em expressar sentimentos negativos. Vai contê-los, esmagá-los sem nunca os fazer sair, sem nunca os libertar, sem dar azo a que a energia de um sentimento mau seja libertada, esvaziada.

Os fins de tarde são, normalmente, horas de grande desgaste. E este desgaste faz-se sentir por parte de quem cuida mas também por parte de quem recebe os cuidados. Os bebés choram, gritam, as crianças fazem birras, testam ainda mais a paciência dos adultos, parecem tornar-se deliberadamente desobedientes quando na realidade estão a reciclar a energia que neles se acumulou ao longo do dia: a energia negativa. A mesma que nós, crescidos, engolimos a cada momento em que as coisas não se processam como desejaríamos, seja em relação a que assunto for, mesmo quando aparentemente nem sequer parece ser importante. A tudo isto junte-se a chegada a casa, preparar jantares, banhos, roupas, trabalhos de casa, enfim, um sem-número de tarefas que precisam ser cumpridas e temos uma mistura de pólvora e dinamite frequentemente pronta a disparar por todo o lado.

Saber controlar o que se sente significa estar consciente das reacções que cada situação provoca em nós mesmos, significa ser capaz de admitir que estar zangado é tão natural quanto estar contente, significa ser capaz de falar sobre isso, de fazer cara feia se for preciso. Tudo isto, acho, vai-se conseguindo no crescimento e na aprendizagem que abordaste no texto, que não acaba nunca mas que para começar basta um esforço e uma vontade.
escrito por Ana (enviado por mail).
Muito obrigada pela tua colaboração, Ana!

4 comentários:

papu disse...

Antes de mais deixa-me dizer que concordo em absoluto. Não há nada como ser verdadeiro com as crianças. Se estamos zangados, estamos zangados! As crianças aceitam isto muito melhor que a nossa tentativa infrutífera de mostrarmos o que não sentimos nem o que não somos. Do mesmo modo, acho que os pais também devem ter alguma tolerância aos momentos de zanga dos filhos. Se eles gritam, batem com a porta, devemos, claro, tentar alguma contenção, mas não reprimindo completamente a manifestação da raiva. É importante que as crianças também se possam zangar. Dentro de certos limites, como é óbvio (connosco também é assim), as esses limites não podem abafar completamente a sua expressão.

Anónimo disse...

eu é que agradeço, papu. :)

LP disse...

Eu normalmente não consigo reprimir os meus sentimentos, principalmente os negativos e ralho, grito e choro quando me apetece (não são assim tantas vezes). Claro que sempre dentro de certos limites mas esses não são impostos pelo momento ou pelos meus filhos e sim pela minha educação. Tento sempre é explicar-lhe mais tarde o que se passou ou se for inexplicável (porque também acontece) pedir desculpa.

papu disse...

Olá, liliana. Já recebi o teu testemunho e estou a tentar publicá-lo mas o blogger não deixa. Vamos lá a ver se consigo!

pedir desculpa: ora aí está uma coisa que todos os pais deviam fazer! É que também estamos a dar-lhes e exemplo, e se o fizermos, eles também o farão (comigo isso está sempre a acontecer. Como peço desculpa muitas vezes eles também pedem, tanto aos pais como um ao outro).