quinta-feira, setembro 28

Sobre o parto


Li este livro e fiquei fascinada. De tal maneira que tenho de o partilhar convosco. Não vou encerrar o tema anterior, penso que há espaço para irmos falando de tudo.

Michel Odent traça-nos o percurso histórico de uma técnica cirúrgica que, graças à sua evolução, se tornou numa das formas mais usuais de nascer, no nosso século. É claro que está a falar da cesariana. Segundo ele, estamos neste momento na era das cesarianas, e das cesarianas programadas. Esta mudança revolucionária na forma do nascimento foi possível graças à segurança que hoje em dia a técnica oferece. De facto, somos confrontados com imensos estudos levados a cabo nos últimos anos, que comparam resultados entre os nascimentos por cesariana e por via vaginal, e os resultados são inconclusivos. O que quer dizer que, hoje em dia, e com as técnicas sofisticadas que existem, é impossível garantir que o parto por via vaginal ofereça menos riscos que o parto por cesariana.

Como é que este cenário se tornou possível? Para o autor não há dúvidas nenhumas que estes acontecimentos reflectem o desconhecimento e a ignorância dos técnicos de saúde em relação às verdadeiras necessidades de uma mulher em trabalho de parto. E é o desconhecimento e o não reconhecimento dessas necessidades que aumentam os factores de risco no parto por via vaginal. Esses riscos estão relacionados com o uso de fórceps ou ventosa, consequências para o períneo da prática da episiotomia, e dificuldades na dilatação ou mesmo incapacidade para fazer a diltação, com decorrente hipótese de sofrimento fetal.

Todas as mulheres, como fêmeas da família dos mamíferos, têm a capacidade de dar à luz por si mesmas, e se não houver interferências desnecessárias. Todas as fêmeas dos mamíferos o fazem. O que nos distingue em termos cerebrais, dos outros mamíferos, é a existência do neocortex, aquela parte do cérebro que nos permite pensar, e que sofreu um desenvolvimento extraordinário ao longo da evolução da espécie humana.

Durante o trabalho de parto, a parte mais primitiva do cérebro, composta pelo hipotálamo e pela glândula pituitária, segrega uma série de hormonas necessárias ao processo. Em todas as espécies de mamíferos é assim. A principal hormona envolvida no trabalho de parto é a ocitocina, a hormona do amor, segundo o autor. Esta hormona tem um papel activo na contracção do músculo uterino e no desencadeamento do trabalho de parto, bem como no reflexo de expulsão do fecto, um fenómeno normalmente observável no decorrer do trabalho de parto quando este não sofre interferências intrusivas desnecessárias.

O que se passa com a espécie humana é que a outra parte do cérebro, o neocórtex, aquela parte que, precisamente, nos distingue nos outros mamíferos e nos permite pensar e reflectir de forma única, acaba por interferir neste processo que, de outra forma, ocorreria naturalmente. O que se passa nas práticas dos nossos hospitais de há uns anos a esta parte é precisamente a sobrestimulação do neocórtex. Aliás, esta sobrestimulação vai acontecendo al longo da gravidez de uma forma que se revela mais nefasta do que positiva. Como? Vejamos: a falta de privacidade e o sentir-se observada, a presença de luz forte, a presença de um aparelho de monitorização do batimento cardíaco e da progressão do trabalho de parto, ouvir alguém falar, até a simples presença de um homem!

As necessidades básicas e fisiológicas de uma mulher em trabalho de parto podem, assim, resumir-se a uma frase: "não estimular o neocórtex". Falar com alguém é uma das maneiras de estimular esta parte do cérebro, por isso a mulher em trabalho de parto não precisa de palavras. Precisa essencialmente de se sentir segura, protegida e sentir a companhia de alguém que assuma essa função de protecção (uma figura maternal). Precisa de privacidade e de respeito por essa necessidade fundamental. O sentir-se observada e julgada suscitam ansiedade e estimulam a produção de hormonas da família da adrenalina, que atrasa o trabalho de parto. Precisa de estar num ambiente calmo, tranquilo, com muito pouca estimulação visual e auditiva. Se estas necessidades forem reconhecidas e respeitadas, uma mulher tem capacidade fisiológica para dar à luz sem interferência.

Mas e perguntamos nós: então e o saber que o bebé está bem? Não é essencial? Durante o parto essa é uma das preocupações de todas as mães. No entanto, e segundo este autor, essa necessidade de saber que o bebé está bem já faz parte do clima ansiogénico que se gera à volta do parto e do nascimento. Estamos ansiosas porque o próprio acompanhamento durante a gravidez é um constante bombardear de informação que gera ansiedade. Fazemos baterias de testes umas atrás das outras para saber se está tudo bem. Fazemos exames cada vez mais sofisticados para espreitar o bebé no útero e assegurarmo-nos de que tudo está bem. Isto, ao contrário do que seria de esperar, não nos retira a ansiedade, mas alimenta-a.

Durante muitos séculos, em muitas culturas humanas, os rituais relacionados com o nascimento interferiram de uma forma intrusiva na intimidade da mãe e do bebé recém-nascido, no sentido de separar o bebé da mãe nos momentos após o nascimento. Apesar de já existirem muitos estudos e evidências científicas da importância do contacto precoce entre a mãe e o bebé nestes momentos, é ainda prática corrente na maioria dos hospitais esta separação, invocando para tal toda a espécie de explicações e justificações médico-científicas. Michel Odent relaciona estas práticas com o facto de, para as sociedades de então, ser importante criar indivíduos mais agressivos para assegurar a continuidade da espécie (isto em termos evolutivos). Esta terá sido a realidade de séculos e séculos de história da humanidade, desde os seus primórdios.

A questão que se levanta é: será que isto faz sentido na atualidade? Afinal que sociedade queremos criar? Queremos continuar a ter sociedades guerreiras? Os valores que as sociedades actuais querem incutir nos seus indivíduos são completamente inovadores em relação aos valores do passado: hoje em dia há uma preocupação generalizada com o afecto, com a tolerância, com a paz, com o civismo, com a partilha, com a solidariedade, com a cooperação, com práticas anti-discriminatórias, isto só para dar alguns exemplos. O que as sociedades têm que entender é, acima de tudo, que, mantendo os rituais de nascimento existentes, dificilmente estes valores vingarão.

O aumento da taxa de cesarianas e de cesarianas programadas também traz consequências muito importantes a nível social. Especialmente no segundo caso, em que a mulher não entra em trabalho de parto. Quando o trabalho de parto é espontâneo, dá-se a libertação do cocktail hormonal indispensável para que este decorra naturalmente. Ao contrário, quando a cesariana é programada, a produção hormonal fica comprometida. O que se passa é que os processos de nascimento actuais interferem cada vez mais com esta produção hormonal que se desencadeia durante o trabalho de parto, e isto traz consequências a nível da vinculação e futura relação mãe-bebé, bem como do sucesso da amamentação. É altura de parar e perguntar: que seres humanos queremos criar? É altura de pensar em termos de futuro, a longo-prazo, capacidade que a nossa espécie não domina de forma nenhuma.

Podia estar para aqui a escrever sem parar sobre o livro, pois levanta tantas questões novas e encaradas de uma perspectiva ambiciosa e inovadora, que torna inesgotável qualquer comentário. Recomendo vivamente a sua leitura. E, depois de o ler, não mais olho para os meus partos com os mesmos olhos com que olhava antes. Compreendo agora porque é que, quando o David nasceu, fechava os olhos de forma persistente (e a enfermeira sempre a dizer-me que não se tinha um filho de olhos fechados!). Compreendo porque é que me incomodava que falassem comigo. Compreendo porque foram as mãos do meu marido a acariciarem-me a testa e os cabelos tão importantes. Comprrendo porque é que, apesar de terem sido os dias mais felizes da minha vida, não foram nem de perto nem de longe como eu queria que tivessem sido. E quero compreender mais!

Testemunhos

Temos um novo testemunho sobre amamentação, lá mais em baixo.
Quero aproveitar para agradecer o apoio às pessoas que o têm feito. Este blogue também é vosso, sem este precioso contributo não cumpriria com o seu objectivo.

terça-feira, setembro 26

Ser capaz de soltar as emoções negativas

Essencialmente, ao escondermos dos outros, especialmente dos que de nós estão dependentes, esse lado negativo, estamos a passar-lhes a mensagem errada de que o que é mau não é para ser falado, expulso, trazido cá para fora. Estamos a dizer-lhes que os momentos de tristeza, as alturas em que nos devemos e podemos zangar, os instantes de raiva têm de ser contidos num colete de forças. Sabemos todos que os bebés e as crianças aprendem muito por imitação, pelo exemplo, pelo que vêem, ouvem e sentem dos que com eles passam a maior parte do tempo, começando pela mãe e pelo pai, continuando na escola e no resto da família. Não se trata de desatar aos berros por tudo e por nada, não se trata de fazer má cara a todo o momento, trata-se de saber criar um espaço em que as emoções negativas podem e devem ser faladas, aprendidas. Uma mãe que nunca se zanga, que nunca chora, que nunca se entristece, um pai que não se zanga, não ralha, não repreende, não explica, sobretudo, o que é que está mal, o porquê das coisas, está a formar uma criança que vai provavelmente ter dificuldades em expressar sentimentos negativos. Vai contê-los, esmagá-los sem nunca os fazer sair, sem nunca os libertar, sem dar azo a que a energia de um sentimento mau seja libertada, esvaziada.

Os fins de tarde são, normalmente, horas de grande desgaste. E este desgaste faz-se sentir por parte de quem cuida mas também por parte de quem recebe os cuidados. Os bebés choram, gritam, as crianças fazem birras, testam ainda mais a paciência dos adultos, parecem tornar-se deliberadamente desobedientes quando na realidade estão a reciclar a energia que neles se acumulou ao longo do dia: a energia negativa. A mesma que nós, crescidos, engolimos a cada momento em que as coisas não se processam como desejaríamos, seja em relação a que assunto for, mesmo quando aparentemente nem sequer parece ser importante. A tudo isto junte-se a chegada a casa, preparar jantares, banhos, roupas, trabalhos de casa, enfim, um sem-número de tarefas que precisam ser cumpridas e temos uma mistura de pólvora e dinamite frequentemente pronta a disparar por todo o lado.

Saber controlar o que se sente significa estar consciente das reacções que cada situação provoca em nós mesmos, significa ser capaz de admitir que estar zangado é tão natural quanto estar contente, significa ser capaz de falar sobre isso, de fazer cara feia se for preciso. Tudo isto, acho, vai-se conseguindo no crescimento e na aprendizagem que abordaste no texto, que não acaba nunca mas que para começar basta um esforço e uma vontade.
escrito por Ana (enviado por mail).
Muito obrigada pela tua colaboração, Ana!

segunda-feira, setembro 25

Nem tudo são rosas!

Ora vamos lá então iniciar um novo tema de discussão: o lado mau (ou menos bom) da maternidade. Sim, porque isto de ser mãe, ou pai, como podem confirmar todos os protagonistas, não são só rosas!
Sempre que um novo bebé nasce, há outro que morre: o bebé imaginado. Este bebé vive na imaginação dos pais muito antes mesmo da gravidez acontecer, talvez a partir do momento em que se deseja um filho. O bebé imaginado vive na fantasia, no sonho dos pais. É um bebé idealizado. Durante a gravidez, esta idealização atinge o seu pico, e vai sendo desenhada através, também, do contacto com a realidade adivinhada: os movimentos na barriga, os pontapés, os soluços, as danças, enfim, toda a relação que se estabelece com o bebé no útero.
Não quer isto dizer que, antes do bebé nascer, os pais achem que vai correr tudo às mil maravilhas. É evidente que a maioria dos pais sabe que não é assim, e muitas vezes até se antecipam medos, receios, ansiedades, momentos de dúvida, de stress, de cansaço e mesmo de descontrolo. O que se passa é que, antes do bebé nascer, toda a realidade à volta da sua vinda e da vida que se terá depois do nascimento é imaginada. A diferença está entre viver as coisas e imaginá-las. Esta vivência na fantasia é muito importante, vai estruturar uma teia de laços afectivos entre os pais e aquele bebé, vai preparar os pais para o seu novo papel. Quando o bebé não é sonhado nem idealizado pelos pais alguma coisa se passa, e isso trará sem dúvida repercussões futuras no desenvolvimento e estabelecimento da relação afectiva entre os pais e o bebé.
Quando o bebé nasce, os pais são enfim confrontados com o bebé real. O bebé imaginário vai ter de se moldar, digamos assim, às características reais do bebé que nasceu. Este confronto nem sempre é pacífico, podendo tornar-se, por vezes, um processo difícil ou mesmo doloroso.
Todos os pais concordarão que aquilo que torna a maternidade e a paternidade uma experiência única, boa, maravilhosa é um conjunto vasto de experiências emocionais, tanto positivas como negativas. E, contrariamente ao que se possa pensar, as negativas não são em menor número nem menos intensas que as positivas. Então o que é que faz com que o ser pai e mãe seja, para a maioria das pessoas, uma experiência tão rica e tão gratificante? Precisamente, diria eu, esta capacidade de lidar com ambos os lados, o bom e o mau. E a consciência de que os erros, os momentos menos bons, aqueles que gostaríamos de apagar com uma borracha da nossa memória, são momentos importantíssmos de aprendizagem e de crescimento. Ser pai e mãe é uma aprendizagem constante. E não se aprende sem errar. E se, na matemática ou no português, o erro apenas nos dá uma má nota ou um risco a vermelho num exame, na vida o erro traz sofrimento. Às vezes muito sofrimento. Mas o sofrimento é uma experiência importante, assim como aprendermos a lidar com o nosso lado depressivo, triste, ansioso, dramático. Tudo isso faz parte de nós e ensina-nos a crescer. Ser pai ou mãe é, acima de tudo, um lento processo de crescimento. Que nos muda por dentro, que nos traz alegrias e tristezas, que nos amadurece. Não há nenhum pai ou mãe que olhe para trás e que seja igual ao que era antes dos filhos nascerem. Não acredito que haja.
Ser pai e mãe revela-nos e traz ao de cima aquilo que somos. De melhor e de pior. Aquilo que vivemos com os nossos filhos acorda muitas experiências passadas da nossa infância. E pode ser uma oportunidade de vivenciar e equilibrar conflitos passados. Ou não. Tudo depende da nossa capacidade de o fazer.
Ser mãe e ser pai abana a nossa estrutura. Exige-nos um esforço de adaptação emocional constante. Uma alteração de papéis e de expectativas radical. Uma disponibilidade para dar sem reservas. Para dar e para empatizar. As necessidades do nosso filho passam a ser as nossas prioridades principais. Necessidades de amor, de conforto, de contacto, de protecção, de alimento, no sentido físico e emocional. E isto independentemente das nossas próprias necessidades estarem satisfeitas ou não! Ser pai e mãe exige uma reformulação total das nossas prioridades emocionais, da nossa gestão afectiva. Deixamos de ser nós, apenas. Passamos a ser responsáveis por alguém que é completamente dependente, a todos os níveis, de nós. E isto pode trazer muita desorientação a alguém que encare este excesso de dependência de uma forma negativa.
É claro que medo, todos temos. Quem é que não teve receio de não ser capaz, de não aguentar, de que a exigência fosse demasiada? Quem é que não se lembra disso? Das noites de cansaço extremo, quando temos de acordar às vezes de hora a hora e ainda estar disponíveis para dar de mamar? Ou quando eles choram, choram, e não se calam, e andamos a dormir mal e parece que já não aguentamos, às vezes só nos dá vontade de, num acto de loucura, os atirar pela janela? Ou de lhes enfiar um calmente pela boca abaixo? Ou de lhes dar um safanão a ver se se calam? Quem é que nunca viveu momentos de desespero? Ninguém, acho. E não há que ter medo de dizer estas coisas horríveis, porque elas passam-nos pela cabeça, claro que passam. Não há que ter medo dos pensamentos. Os pensamentos não magoam ninguém. Os actos, sim. Mas a passagem ao acto é mais frequente naquelas pessoas que, precisamente, não têm tanta capacidade de pensar e de mentalizar.
O confronto com os sentimentos negativos é muito importante para nós, embora quase toda a gente (e eu também, como é evidente) se escuse de fazê-lo e o evite. É natural tentarmos evitar situações desagradáveis! Mas sem conflito não se cresce. É o mesmo que se passa com aqueles pais que evitam zangar-se. As crianças testam os limites a toda a hora, e o seu crescimento e desenvolvimento da autonomia levam-nas a ter necessidade de se opôr à nossa vontade. Não há como evitar o conflito! E quando estamos zangados, temos de fazer voz grossa e mostrar uma cara zangada, sim! Até porque se nos zangarmos mesmo é isso que fazemos! Ninguém se zanga com falinhas mansas nem com sorrisos.
Acho que esta é uma dificuldade bastante generalizada nas novas gerações de pais: ninguém quer fazer o papel da bruxa má, da madrasta detestável. Não queremos ser ríspidos e demasiado severos como o eram as gerações de pais do passado, não queremos talvez repetir o que vivemos na nossa infância. Não queremos que os nossos filhos nos olhem como uns tiranos. Mas isso é inevitável, claro que eles nos olham como uns tiranos, e até pior, quando nos zangamos com eles! O poder que nós temos para eles é tão imenso, tão inimaginável (mas se fizermos um esforço de memória conseguimos ter uma ideia...) que eles ficam aterrados! Vejam se me entendem: nós somos monstros ao pé deles, já repararam? Somos enormes, comparados com o tamanho deles. Tudo o que façamos, desde um sorriso, a uma gargalhada, a uma cara zangada, a um grito, vai ser gigante para eles. O que eles ouvem e o que eles vêem não é o que nós vemos, se nos víssemos ao espelho. O que eles vêem é uma montanha imensa, que eles adoram acima de tudo, que os abraça e envolve de calor, mas que vira um vulcão terrível a lançar lava quando se zanga, e um dragão de duas cabeças a lançar chispas pelos olhos quando os assusta. Não há nada a fazer, é assim. E às vezes temos de ser terríveis, sim, temos de gritar e deitar fogo pela boca. Para depois os abraçar e envolvê-los na certeza de que o nosso amor por eles é forte como uma rocha, mesmo quando nos saem aquelas baforadas pela boca. Aliás, o que de melhor podemos fazer por eles é ensiná-los a desembainhar a espada e vencer o terrível dragão, como o valente príncipe das histórias de encantar. E plantar neles uma mão-cheia daqueles beijos especiais, capazes de despertar sonos de 100 anos.

A conversa sobre Amamentação

continua para quem estiver interessado (a).
A publicação de textos ainda está aberta. Tenho andado a pesquisar, mas não tenho encontrado nada que valha a pena publicar. Comprei uns livros do Michel Odent que devem chegar para a semana, talvez nessa altura publique algum texto sobre o tema.
Se tiverem textos para enviar-me, podem fazê-lo ainda.
Se quiserem dar o vosso testemunho, de uma forma mais elaborada do que um simples comentário, podem mandar por mail que eu publico também. Esta hipótese está disponível para qualquer tema.
Fico à espera dessas contribuições.

Amamentação: a minha experiência

Eu nunca tive dúvidas que ia amamentar o meu filho mais velho. Li umas (poucas) coisas sobre o assunto e lembro-me que estava muito distraída na sessão sobre amamentação no curso de preparação para o parto que fiz. Sempre achei que não eram precisas demasiadas técnicas para o fazer. Que a minha intuição e a vontade dele bastavam.

(Esta é uma faceta minha. Acho sempre que existem demasiadas técnicas, ferramentas e publicações sobre assuntos que deveriam ser naturais e tratados com bom-senso. Mas este é outro assunto que aproveito para propor que seja discutido aqui.)

E foi mesmo assim ao princípio. Quando o Henrique nasceu não mamou logo. Estava um pouco mal-disposto, segundo a enfermeira que o levou para lavar. Quando o trouxe, já lavadinho e penteado, ajudou-me no primeiro movimento e lá estava ele a mamar. Como eu sempre pensei, não custou nada e assim foi durante o primeiro mês. Ele mamava quando queria, como queria e era sempre muito despachado. Nunca tive dores, excepto no dia da subida do leite em que não me reconheci ao espelho. Até que comecei a sentir que o peito já não recuperava como antigamente, ele começou a chorar no fim das mamadas e passados alguns dias tinha perdido peso. Desesperei, pensar que o meu filho estava a passar fome era ainda mais insuportável do que pensar que tinha falhado na minha obrigação principal: alimentá-lo. Dei-lhe o primeiro biberão e ele nunca mais pegou na mama. Ainda tirei leite à bomba para lhe dar em cada mamada. Foi muito cansativo e passado um mês acabou. Nessa altura fui bombardeada com informação sobre amamentação. Informação que já existia mas que me passava ao lado. Informação que me fazia sentir incompetente e falhada até que desisti de tentar encontrar explicações para o que aconteceu.

Quando engravidei do João já não tinha tantas certezas sobre a amamentação. Sabia que podia falhar ou sofrer alguns percalços pelo caminho e decidi que todos os dias, todas as mamadas eram uma vitória. De cada vez que ele mamava e ficava satisfeito eu sentia que estava tudo a correr bem, mas sem pensar que queria fazê-lo até ele ter 4, 6, 12 ou 24 meses. Saí da maternidade com o peito gretado e com tantas dores que não aguentava a boca dele no mamilo. Usei bicos de silicone sempre que me doía. E ele mamava imenso, nunca fazia intervalos de mais de 3 horas e às vezes eram de 1 hora. E assim foi mamando e aumentando tanto de peso que o médico e enfermeiras me perguntavam sempre se era só mama. Comecei a trabalhar quando ele tinha 4 meses e ele bebia um biberão de leite de lata por dia (o outro era do meu leite que tirava de madrugada). Com 5 meses foi para a escola e começou a comer uma papa pois recusava-se a beber leite lá. Com 6 meses iniciou as sopas e gostou tanto que já só mamava de manhã e à noite. Aos 8 meses deixou-me, naturalmente, como eu sempre quis.

Estou grávida novamente e sei que vou amamentar. Pelo menos uma vez e enquanto correr bem para mim e para ele. Não há mínimos nem máximos.


Escrito por Liliana (enviado por mail).
Muito obrigada, Liliana, e parabéns pela tua persistência.

domingo, setembro 24

quinta-feira, setembro 21

A Arte de Amamentar



(Cliquem na imagem ou no título)

Sabiam que

foi criada a Semana Mundial da Amamentação? Mas já foi... em Agosto deste ano.

Mas deve haver mais para o ano, entre outras acções, penso eu. Era interessante vermos o nome de Portugal nos países envolvidos... era, era...

Fica aqui o link.

quarta-feira, setembro 20

Amamentação


Por sugestão da Sandra, queria propor-vos uma conversa sobre amamentação. Podemos fazer uma Semana da Amamentação. É claro que, se houver interesse, as conversas podem prolongar-se um pouco mais, ou um pouco menos, se virmos que um tema não suscita grande interesse. Mas não me parece que tal aconteça ;)

Se houver textos que achem interessantes sobre o tema podem enviar-mos: papuinlondon@hotmail.co.uk. Publicarei os mais interessantes e os que suscitem melhor a troca de ideias.

Para iniciar

queria partilhar convosco estas duas partes de textos de dois autores, que acho fundamentais. São para ler e reflectir. São verdades simples, ditas por palavras simples, que muitas vezes já pensámos, sentimos ou intuímos, mas que talvez nunca tenhamos formulado em palavras inteligíveis.


"A vida mental do bebé é despertada e animada pelo desejo entusiástico, a paixão dos pais. Se não existir este investimento parental, a mente do bebé não se desenvolve - fica reduzida a uma protomente. O próprio investimento de vida esmorece; é uma sobrevivência apática e abúlica.
Não tendo recebido amor, o indivíduo não vive a experiência fundamental de ser amado. Experiência fundamental e fundadora; sem ela, não há o movimento de expansão a que chamamos mente - a criação contínua. Deveras, ter mente é criar."

António Coimbra de Matos, Depressividade e Depressão Falhada, publicado em Mais Amor Menos Doença, Climepsi Editores, 2003



"O ser humano não pode viver sem confiança. Confiança que ganha pela afectividade recebida. Recém nascidos e bebés que não recebem afecto podem tornar-se apáticos, doentes ou até morrer. Mesmo que a vivência de sentir-se amado - seja de que forma for - se tenha verificado só uma vez, faz parte da natureza da nossa imaginação conseguirmos preencher o vazio que se segue (...)"

Arno Gruen, A Loucura da Normalidade, Assírio & Alvim, 1995

quinta-feira, setembro 14

Precisam-se de tijolos, cimento e boa vontade!

Olá! Este é um espaço em experimentação. O objectivo é ser um espaço de debate e troca de ideias sobre diversas áreas do desenvolvimento infantil. Mas não pretendemos que seja uma coisa muito teórica, a tónica será a experiência dos pais e a sua partilha, com o enriquecimento daí resultante. É um espaço aberto a todos os que queiram participar e contribuir. Ainda está tudo a ser construído! Aceitam-se opiniões, sugestões, tudo o que puder contribuir para o seu enriquecimento. Será essencialmente um espaço de comunicação, na minha ideia. Vão existir outros colaboradores para além de mim, também. E pronto! Digam de vossa justiça. Deixem as vossas ideias. Obrigado!
E já agora divulguem!